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Harley-Davidson Night Rod, a dama da noite

Versão sombria da V-Rod mostra sua força, que vai muito além do motor de 125 cv desenvolvido em parceria com a Porsche

“Nossa, que moto louca! E é Harley?!” Ouvi muito esse comentário ao longo dos quase 1.000 km que percorri com a Night Rod Special 2014, versão sombria da família V-Rod, que carrega o menor percentual de DNA Harley-Davidson em sua composição. “Sim, ela é muito louca e ela é uma Harley”, respondi diversas vezes.
Com um motor menos barulhento, design diferente de todas as suas irmãs e uma traseira de parar o trânsito, diga-se, essa Harley divide opiniões. Considerada pelos aficcionados por “H-D” como uma espécie de heresia, pois não carrega o tradicionalismo intrínseco à marca norte-americana, a V-Rod, em contrapartida, foi muito bem recebida pelos brasileiros. O modelo, que custa R$ 56.900, é o mais vendido da divisão nacional da montadora e é fácil entender porque.
Será que eu dou conta?
Já faz um tempo que paquero a V-Rod, obviamente pelo estilo autêntico, mas em especial pelo seu motor mais silencioso, refrigerado a água, com duplo comando no cabeçote e desenvolvido em parceria com ninguém menos que a Porsche. Batizado de Revolution, o V2 de 1.247 cc produz 125 cv e um “senhor” torque de 11,4 kgfm.
No entanto, me perguntava se daria conta desta imponente motocicleta, principalmente pela posição de pilotagem. Embora o banco seja bem baixo com relação a altura do solo (675 mm), as pernas vão esticadas lá na frente para alcançar as pedaleiras de câmbio e freio traseiro. A lombar fica bem apoiada na curvatura do banco, mas os braços ficam estendidos e a coluna inclinada para a frente. “Será que cansa muito? Será que ela vai bem na cidade? Será que é mesmo uma Harley diferente?”, pensava. Como a curiosidade matou o gato, dizem, aceitei feliz ter a Night Rod como minha fiel parceira por uns dias. E sinto saudades dela.
De fato, a posição requer certo costume, assim como não devemos nos esquecer que ela possui um longo entre-eixos. Nem pense em deitar a V-Rod para fazer uma curva, pois ela não fará. Isso eu constatei assim que peguei a moto e virei na primeira esquina. Um entre-eixos longo aliado a muito torque pedem cautela no acelerador em curvinhas fechadas. Outro ponto que me chamou a atenção de imediato foi seu estúpido freio traseiro. Sem diminuir a ação dos dianteiros de disco duplo com pinças Brembo, o traseiro é beneficiado pela distribuição de peso da própria moto e a V-Rod freia muito!
Por falar em traseira, é ali que está o charme do modelo, não tem quem não olhe quando ela passa. Um gigante pneu de 240 mm dá estabilidade, aderência, tração e confere muito, mas muito estilo à moto.
Para “sentir” melhor essa monstra, percorri um trecho de cerca de 600 km entre São Pauloe Ribeirão Preto – ida e volta – e, como ela é comprida, nada melhor do que a Rodovia dos Bandeirantes (SP), cheia de retas, para que ela se sentisse em casa. Tanque cheio, asfalto liso e uma retona. Eu ria sozinha nas saídas dos pedágios (e até Ribeirão são muitos), sem fazer o menor esforço ela arranca com uma rapidez absurda e o torque vem com tudo fazendo o pneuzão traseiro empurrar quase 300 kg de pura máquina como se fosse tarefa fácil.
O câmbio surpreendeu pelos engates mais suaves e precisos, se comparado às demais Harleys. São cinco marchas, todas bem longas, principalmente a primeira. Tanto é que, na cidade, variava entre primeira e segunda, dificilmente ela me permitia jogar uma terceira. Porém, como ela é “torcuda”, mesmo em marchas mais altas se você der mão, as retomadas são feitas com vigor.
Quanto à suspensão, as bengalas invertidas na dianteira e os amortecedores na traseira cumprem seu papel. O piloto viaja confortável, mas levar garupa apenas em último caso, o assento é muito pequeno, desconfortável e com pouca espuma. Em uma velocidade de até 120 km/h, o fato de a V-Rod não possuir uma bolha não chega a incomodar, em velocidades mais altas fica difícil encarar viagens longas (pelo cansaço proporcionado pela resistência ao vento e também pelas multas, que certamente chegarão).
Falando em gastar, ela bebe. O consumo médio (cidade/estrada) no período em que fiquei com a moto foi de 12,6 km/l. O tanque, que fica sob o banco, tem capacidade para 18,9 litros.

Na estrada é uma delícia pilotar a Night Rod, já na cidade, se optar pelo modelo como veículo do dia-a-dia, melhor matricular-se na academia, pois ela cansa um pouco. Um ponto positivo – e que também a afasta dos modelos tradicionais da Harley –  é vibração quase imperceptível. A embreagem não é das mais suaves, mas também não chega a ser cansativa como a de suas irmãs e o melhor de tudo é que no trânsito ela se vira bem. Mais estreita, consegue passar entre os carros e fugir do trânsito. E é bom mesmo, pois sua perna direita ferve se você fica muito tempo parada em cima dela.
Adorada pelos brasileiros
Que os discípulos de Harley-Davidson me perdoem, mas a V-Rod foi a Harley que eu mais gostei de pilotar. Ela tem muita presença, nenhuma frescura e exige do piloto na medida certa. Além disso, a produção nacional permite um preço acessível para uma moto deste porte, o que a deixa praticamente sem concorrentes na categoria. Sem dúvida, muitos brasileiros devem compartilhar comigo a mesma opinião, o que explica seu expressivo número de vendas por aqui. No ano passado, a família V-Rod teve 1.341 unidades emplacadas, correspondendo a 17% das vendas totais da H-D no País em 2013.
Enquanto isso, na terra do Tio Sam, as vendas do modelo se traduzem a um fiasco. Por outro lado, isso mostra que a marca está no caminho certo, se reinventando e buscando fãs em outros mercados. Enquanto os puritanos que amam a marca, do alto de suas roupas de couro, bandanas e penduricalhos, torcem o nariz para a V-Rod. A Harley conseguiu alcançar um nicho justamente dos que não comprariam um modelo da marca. Eles dizem: “Não sou muito fã de Harley, mas tem uma que eu teria…”

Harley-Davidson VRSCDX Night Rod Special

Dados técnicos
Preço Capacidade do tanque
R$ 56.900 18,9 litros
Motor Comprimento e altura do assento
Revolution®, V-Twin 60º, refrigerado a líquido 2.440 mm x 675 mm
Cilindrada Pneu dianteiro
1.247 cc 120/70ZR-19 60W
Potência Máxima Pneu traseiro
125 cv 240/40R-18 79V
Torque Máximo Peso seco
11,4 kgfm a 7.250 rpm 289 kg
Transmissão Cores
5 velocidades Vivid Black; Candy Orange; Black Denim; Sand/Cammo Denim
Combustível Freios
Gasolina A disco com ABS, disco duplo com 4 pistões na dianteira, disco simples com 4 pistões na traseira

FONTE.: IG